domingo, 31 de maio de 2015

dia 20 de dezembro de 2021: a data da minha carta de alforria

No dia 20 de dezembro de 2021, uma segunda-feira, eu consigo minha carta de alforria. Completo 10 anos de serviço público e posso pedir minha aposentadoria. Terei ultrapassado os 30 anos de trabalho e muito, pois comecei aos 14 anos, com registro em carteira. Nessa data já terei quase 40 anos de trabalho, mas neste país de merda é assim mesmo: ganha quem começa a trabalhar aos 30 anos e não tem que lutar na vida, antes disso. O fator previdenciário acabou com os pobres que tiveram que começar a trabalhar aos 14 anos, acabou com a minha geração. Naquela época podia. 

Essa é a data:

Dezembro de 2021

Dom    Seg      Ter      Qua     Qui      Sex      Sáb
                                       1          2          3          4
5             6          7          8          9         10        11
12          13        14        15        16        17        18
19          20        21        22        23        24        25
26          27        28        29        30        31    

Só me resta esperar e trabalhar muito até lá. Não que eu não queira fazer mais nada. Realmente não é isso, mas fazer alguma coisa que me dê apenas prazer. Será que existe? Eu hei de encontrar! Não desisto de nada - eu sempre dizia. Agora penso em desistir a todo instante. Que sofrimento! Que dureza ficar longe do meu pequeno paraíso! E ainda por mais 6 anos e meio! Seis longos anos e meio. 

Aurora 

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Crise de pânico

Ando tendo crises terríveis de pânico, sempre ao acordar. Desde 2014 que elas começaram. Houve momentos de maior intensidade em que elas me impossibilitavam de sair da cama. Eu abria os olhos e já começava a tremer, a  suar frio, a  ter taquicardia, o coração disparava e uma dor imensa invadia todo o meu ser. Eu olhava para o dia que parecia um bicho peçonhento e ficava ali como um cão abandonado sem conseguir me mexer, suando cada vez mais, desesperada, sozinha, sem ninguém por perto, sem ninguém para me estender a mão, sem ninguém saber o que estava acontecendo. E eu suava cada vez mais e cobria o rosto com o cobertor, tentando desesperadamente dormir novamente, apagar, para não ter que presenciar aquilo, para não ter que viver tanta miséria da alma, tanta dor. Depois de mais de uma hora nessa situação, às vezes quase duas, eu levantava, com o pijama todo ensopado, com o dia perdido, praticamente, porque já era muito tarde e tinha que encarar o bicho do dia, com minhas mãos frágeis. Então eu queria morrer e só pensava na morte. Nesses momentos, ficava imaginando as formas de morrer. Se não fosse tão difícil... Eu queria um método que fosse infalível. Pensava em enforcamento, em tomar um caminhão de remédio, em tanta coisa. E havia minha filha dentro desse dia, por isso acho que levantava; e havia meu filho fora do país, que tem uma imagem minha de alguém que lutou e conseguiu reverter a vida dele, por isso levantava; não por mim, nunca, pois se pudesse desligava o botão da minha vida - eu já disse isso várias vezes aqui. Mas eu vou continuando, não sei como. 

Há duas semanas e meia que tenho vivido tal síndrome do pânico novamente. Tenho levantado da cama às 09:00/09:15. Já é uma vitória, porque andava saindo às 10:30/11:00, em 2014. Os mesmos sintomas: muito medo, dor horrível no peito, suor exacerbado, querendo dormir novamente, cobrindo a cabeça com o cobertor e suando cada vez mais; taquicardia; por volta de uma hora na cama sem conseguir levantar, nesse desespero; sozinha, sem ninguém para ajudar; marido fora do estado, impassível diante da situação. Ele não quer saber se sofro ou não, importa é o meu salário bom e minha estabilidade. É isso que valho. Sem dinheiro, não valho nada pra ele. Se virar dona de casa, serei menosprezada e judiada emocionalmente. Não tenho pra onde correr. 

A universidade está em greve e estou aproveitando esse momento para colocar o trabalho em ordem. É uma luta, dia após dia. É como disse Kassia Kiss em uma entrevista: a cada passo, retirar uma pedra do caminho, desde a hora que levantamos até a hora de dormir. Mas a hora de levantar é cruel. 

Eu estou muito triste. Eu tenho que enfrentar o dia sozinha, acho que por isso o pânico. Acho que somos sozinhos na vida. Eu queria que alguém me pegasse, um anjo, por exemplo, e me levasse para a casa dele e me tirasse desse mundo e cuidasse da minha alma. Eu sou muito esforçada e ele poderia ter dó de mim. Mas não tem jeito, isso nunca vai acontecer. O Céu não socorre a Terra. Eles são muito cruéis. Deus é muito cruel. Muito cruel. 

Tenho que trabalhar agora. O dever me chama. É sempre assim. 

domingo, 17 de maio de 2015

Um dia isso tem que acaber

Acabo de chegar da casa de um casal de mineiros muito amigos. Ela é enfermeira; ele, delegado. Gosto muito da maneira mais despreocupada com que eles levam a vida, pelo menos em aparência. Entro no meu e-mail, à meia-noite - neurose da vida acadêmica, e havia um enviado por uma editora de uma revista científica, as tais que me matam. Escrevi um artigo e o havia enviado para publicação. Os três pareceres foram favoráveis, mas pedem uma série de mudanças. Claro, ficarei horas, dias, em cima desse artigo para atender às mudanças solicitadas. Fora o estresse que é abrir um e-mail desses, pois você nunca sabe se seu artigo vai ser aprovado ou não. Eu começo até a tremer um pouco, a suar. Acho que tenho pânico desse negócio. Acho, não, tenho certeza. 

Um dia vou apenas viver, sem esses horrores, sem ter que me deparar com e-mails assim. Um dia vou chegar da casa de amigos, como ocorreu hoje, e ficar tranquila porque saberei que no dia seguinte terei que apenas viver a vida. E nessa vida não tem espaço nenhum para a Capes, apenas para os amigos, o pilates, a participação em ongs, fazer bem aos outros..., ou seja, a VIVER. 

O governo vai mudar o fator previdenciário. Não sei como a nova mudança afetará os funcionários públicos, que já possuem o modelo 85/95, mas essa possibilidade já é uma mudança. 

Um dia vou acordar e ter que apenas viver. Tomara, meu Deus! Me conceda essa graça!.