terça-feira, 11 de março de 2014

Eu não consigo

Eu não consigo. Simplesmente não consigo. Minha filha começou a estudar pela manhã e pensei que, com isso, eu resolveria meu problema de acordar às 10:00 da manhã. Não está dando certo. Levanto às 06:00, com muito sono, faço um café "meia boca" para ela, deixo em cima da mesa e volto para a cama. Sequer a acompanho nesse café. Contratei uma van escolar para levá-la, sabendo de meu problema. Ela deve descer para a portaria do prédio às 06:40 para pegá-la. Nesse horário, já peguei no sono novamente, porque o café que preparo dura uns 03 minutos de trabalho, quando muito. Estou sendo uma péssima mãe. Ela come sozinha e fica no Ipad até o momento de descer. E desce, imagino que triste. Hoje eu teria muitas coisas da universidade para fazer, mas saí da cama às 10:08 h. Ela chega ao meio dia e faltam 20 minutos, agora. Nada fiz. E assim o ciclo ruim da minha vida continua e eu sendo infeliz. Nem psiquiatra nem terapia estão adiantando. Aliás, não vi efeito nenhum na terapia até agora. Acho que me falta gente por perto, falta um grupo, falta meu marido, falta Deus de quem não consigo me aproximar de jeito nenhum. No domingo passado eu briguei feio com Deus. Disse que ele não era pai, que um pai não age assim. Eu gritava com Ele, exasperadamente, em meu quarto, num surto psicótico e de raiva. As lágrimas escorriam aos montes de meu rosto e eu repetia: você não é pai, eu não ajo assim com meu filho que já tem 29 anos, eu converso com meu filho, eu estou atenta às necessidades dele. Depois de jogar tudo isso para fora, me senti bem, um alívio mesmo.

Para que acordar? O que tenho pela frente? Quem tenho pela frente? Somente um monte de artigos a serem escritos, aulas para preparar e um monte de burocracias da universidade. Não estou bem. Então eu gritei com Deus por não estar conseguindo colocar minha vida nos trilhos. Eu gritei com Deus por estar levando essa vida, por ter que levar essa vida, por ter que levar essa vida porque preciso pagar por ela. Eu não canso de dizer isso aqui. Se eu não tivesse que pagar por ela, faria outras escolhas, aliás, uma única escolha: viveria em V., minha cidade. Este é o único lugar do mundo em que quero viver. É o único lugar do mundo que me deixa feliz. Eu poderia correr o mundo se o dinheiro assim o permitisse, mas sempre voltaria para V. Ali é o meu lugar. Ali eu sou. 

Eu não estou conseguindo acordar às 06:00 da manhã e me manter acordada. Estou em depressão novamente e deve-se a isso. Minha vida está paralisada como se alguém tivesse jogado nela um raio paralisante. Não consigo trabalhar.

Eu continuo a aurora adormecida. Eu continuo perdendo todas as auroras.

Hoje tenho consulta com minha psiquiatra, que está trocando a medicação. Está saindo a lamotrigina. Para fazer a transição, receitou rivotril, para para tirar da crise terrível que me acometeu de outubro de 2013 para cá. Este medicamento para mim está sendo uma decepção total. Ao invés de me acalmar, ele me irrita. Vou saber hoje qual será a nova droga. Ela não quis me dizer na última consulta.

Estou muito infeliz. Estou chegando a conclusão de que eu não sei viver. Olhei uma foto que tirei em Paris e que coloquei como foto de meu facebook. Será que estou sabendo viver? Nas reflexões que faço, percebo que fiz muita bobagem devido à minha doença, mesmo tendo muito cuidado. 

Aurora

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Dor na alma



Sinto uma dor na alma enorme, uma dor indescritível. É como se os hormônios estivessem todos zerados e eu estivesse oca por dentro. Levantar da cama está sendo um martírio. Assim que abro os olhos, inicia-se uma depressão miserável, o coração dispara, parece que estou com a pressão arterial lá em baixo, começo a suar, sinto uma aflição grande. O sofrimento é medonho e tento fechar os olhos novamente para não sentir esse horror. Via de regra eu consigo, pois tento desesperadamente me apagar novamente. Eu gostaria muito de não ver nada, de fugir, de ir para um lugar em que não houvesse depressão, ou sei lá o que me acomete. Então, acabo saindo tarde da cama, não produzo nada durante o dia e  sinto mais angústia ainda, por estar sendo incompetente. Aí o peito arde de dor, a situação piora devido a esse sentimento de inércia, por não conseguir reagir. Dessa vez, eu não estou conseguindo reagir. Aquela voz interior que fala comigo e que me dá forças positivas, que me faz levantar da cama, se calou.   Eu gostaria de ir para perto de Deus, de morar no céu ou em qualquer outro lugar em que eu não sentisse mais isso, nunca mais. Percebi que vivi a vida inteira assim, no entanto nunca como agora. Estou muito cansada. Se tivesse um botão de off com o qual eu pudesse me desligar, já teria feito isso. No entanto, penso no sofrimento das pessoas que me cercam, nos filhos, no marido, basicamente. Eu gostaria de poder minimizar a dor que isso causaria. Coloco a culpa em mim, parece que sou eu quem não consegue viver, que estou assim porque não confio em Deus, que tenho um estilo de vida que não posso suportar. A sensação de incompetência por não conseguir sair disso acaba comigo. Estou no fundo do poço e não há corda para me tirar de lá. Tamparam o poço e eu fiquei na escuridão, em profunda aflição, com uma dor no peito horrível, uma angústia. Eu não sei. Queria conseguir explicar isso, mas não consigo exteriorizar. Queria conseguir passar para as pessoas como é essa dor, mas não dá, o que posso tentar dizer é isso. Minha filha está abandonada, tampouco ao cinema consigo levá-la. Tento ir para o computador, trabalhar, mas não sai nada. Às vezes consigo um pouco de reação num dia, mas no outro caio novamente. 

A lamotrigina não está mais surtindo efeito e ainda parece causar estragos em meu estômago. Precisei consultar um gastroenterologista e ele constatou, depois de uma endoscopia, que minha situação psicológica é a causadora de todo o mal que está me acometendo. Achei o médico incompetente, fiz tratamento para H. Pylori e achei que era essa bactéria que estava me causando mal. Os sintomas voltaram, passo o dia todo arrotando, pois todo meu sistema gástrico não consegue funcionar direito. Ele receitou Somalium por 10 dias, que não tomei, naquele momento. Meu Deus! Será que o médico tinha mesmo razão? Acabei pegando o remédio e tomava em noites que percebia que não ia mesmo suportar. O remédio acabou. 

As férias enormes de minha filha ajudaram muito nesse processo. Ficar longe do meu marido é arrasador. 

Se é para viver assim, melhor não viver. 

Aurora