sábado, 25 de maio de 2013

A dor

Estou paralisada, perplexa. Em 11 dias de UTI, meu pai morreu. Meu pai! Meu adorado pai. Ele se foi. Eu não consigo acreditar nisso. A dor é imensa, insuportável. Uma pneumonia atípica levou-o a ter um infarto. A combinação dos dois problemas foi fatal. Ele não resistiu e morreu. Sinto-me órfã! Sinto-me oca. Eu pedi a Deus encarecidamente que nos desse uma segunda chance para ficar um pouco mais com nosso pai. Ele havia acabado de completar 70 anos. Uma criança, ainda. Deus não ouviu, tampouco se incomodou. Simplesmente o levou, o apagou. Acredito na existência de um Deus supremo, mas não o compreendo. Não posso lidar com Ele. Ontem, 24 de maio, eu desisti Dele. Estou cansada e cheguei a conclusão de que é impossível viver de acordo com Sua vontade. Eu, particularmente, não consigo. Nada se pode fazer, tudo é pecado. Tudo. Até pensar. É melhor não existir. Pelo Seu código de vida, assinei a minha morte. Não quero pensar nem na minha morte, nem no inferno. Que coisa macabra! Viver pensando no tal inferno, nesse horror, nesse lago de fogo e enxofre. Que Deus é esse? É amor? Definitivamente, nesse quesito não. 

Meu pai se foi. Quando lembro, não consigo acreditar. Não, eu não acredito. A vida nunca mais será a mesma. 

Ficou aquela me pariu. Também só fez isso. Se pudesse ter escolhido, jamais teria nascido de uma mulher daquelas. Nunca! Ela teria vivido na China e eu, no Brasil. A mulher mais limitada, mais reclamona, mais pessimista, mais louca, que já conheci até hoje. Eu nunca vi em seus olhos um momento de carinho. Ela reclamou de cada chão que teve que limpar, de cada almoço e janta que teve que fazer, de cada tanque de roupa que teve que lavar (esse item foi um dos mais desastrosos); ela "fazia a caveira dos filhos", principalmente a minha, para o pai que tinha acabado de chegar do trabalho, cansado. Ele se irritava, algumas vezes me bateu. Não tenho um pingo de mágoa, porque ele não foi o autor intelectual daquilo. Ela falava dia e noite no ouvido dele. Ele viveu uma vida de merda ao lado dessa mulher. Nós, filhos, vivemos uma vida de merda ao lado dessa mulher. A vida inteirinha, inteirinha, a única coisa que saiu da boca dela foi reclamação e doença. Meu pai perambulou a vida inteirinha dele pelos médicos. Um horror! No final da vida, ele pediu socorro a algumas pessoas, disse que não aguentava mais. Era tarde. Não saiu da UTI. Esse novelo é imenso, e não vale a pena desfiá-lo. Pra quê? Que pena!

Ele se foi no dia 09 de maio. Antes, 11 dias de inferno. Eu estou paralisada desde então. Não faço nada, trabalho obrigada e só abro os olhos às 11:00 horas do dia, obrigada.O sonho do acordar cedo? Está mais longe do que nunca. Estou num sábado e agora à noite bateu uma vontade de mudar tudo. Estou com vontade de estudar budismo ou coisa assim. Eu não tenho nada a ver com a guerra entre Deus e Satanás. Essa guerra é deles. Não tenho nada a ver com o que fez Adão e Eva. Não tenho nada a ver com o fato de Deus ter posto no Jardim do Éden uma árvore do mal. Por que Ele a pôs lá, se sua criação era perfeita? O que eu tenho a ver com isso? Não pedi para nascer, tampouco nascer de uma mulher daquelas e ter a vida triste de médico e reclamações que tivemos. Tanto quanto a morte de meu pai, está doendo o fato de constatar a merda que foi. 

Deus? 

Consegui uma coisa: mudei a posição de dormir. Antes, de cara no travesseiro, o que estava fazendo meu rosto ficar todo amassado. Agora, de costas. Ainda vou acertar meu sono. Ainda vou. 

Estou devastada. 

Aurora