domingo, 28 de maio de 2023

EU FIZ 55 ANOS E TUDO HAVIA MUDADO

Como eu sonhei com essa data! Como eu sofri quando essa data estava longe! Eu quis morrer, não queria mais viver, porque não fazia sentido. 

O dia 20 de maio de 2023 chegou e fiz 55 anos, só que não pude pedir minha carta de alforria. Havia ocorrido uma reforma da previdência feita em um governo nefasto, horrível e fascista. Com ela, todo o tempo que  havia averbado na instituição em que trabalho passou a fazer parte do cômputo total, o que leva meu salário lá pra baixo, pela metade. Com isso e com vários outros detalhes, os quais são muitos e não dá pra colocá-los aqui nesse momento, não pude. Oito dias já se passaram e não pude. 

Mas vou continuar lutando. Outra hora volto aqui para contar os detalhes. Demorei muito para descobrir como entrar novamente nesse blog, o qual não recebia atualizações desde dezembro de 2021, há um ano e meio, portanto, e me cansei. Mas eu volto. 



segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

CHEGOU O DIA 20/12/21

20/12/21 FINALMENTE CHEGOU! CHEGOU!

Em 2015, eu estava no chão, queria morrer, só não o fiz porque não tinham um bom método. Se tivesse uma pílula que colocasse um fim em tudo, com toda a certeza a teria tomado. 

O que me dava um certo alento era pensar nessa data de hoje; porém, ela estava muito distante. Eu pensava nela, em 2015, e a via impossível de ser alcançada. Fui sobrevivendo, apenas isso. Veio a pandemia e, pra mim, ela foi um alento, porque pude me ausentar do mundo, trabalhar remotamente e me fechar. Não precisava ir e vir, podia me esconder atrás da tela. Embora tenha sido (e ainda está sendo) um momento terrível para a humanidade, pude ver um lado bom nisso tudo. 

Muita coisa aconteceu até aqui. Eu sobrevivi. Eu tenho sobrevivido. Agora, é entender como tudo que aconteceu até aqui, as mudanças não previstas que ocorreram no meio do caminho, vão impactar na minha carta de alforria. Eu sabia que ela não poderia ser pedida no dia de hoje, mas essa data seria o começo do fim. Mudanças aconteceram nesse entremeio, houve uma reforma da previdência que, com certeza, vai me impactar. Aguardo fevereiro para entender. 

O mais importante disso tudo é: eu sobrevivi e, lendo agora meus relatos, estou certa de que realmente pedirei minha carta de alforria assim que eu puder. 

Quanto ao motivo principal do blog, acordar cedo: melhorei muito, raramente saiu da cama depois das 08:30h. Mas ainda é muito. Quero sair da cama no máximo às 07:00h. Ideal seria por volta das 06:00h. eu nunca desisto e ainda vou alcançar esse objetivo. 

A Autora ainda vai voltar por aqui; ainda não acabou, mas, agora, há luz no final desse túnel escuro. 


domingo, 23 de setembro de 2018

Que vida triste!

Estou completamente desolada. De 2016 pra cá, tenho tentado me estabilizar a duras penas. Fico tentando enviar mensagens positivas para minha mente o tempo todo para evitar cair, principalmente quando estou sentindo que posso cair. Ainda em 2015, iniciei uma medicação que me ajudou muito a passar por esses últimos anos: Lexapro e lamotrigina, em dosagens muito baixas. Fiz um teste genético, na USP, que mostrou com quais medicamentos psiquiátricos meu organismo se adapta. Com muita luta, fui tentando me estabilizar. Ás vezes caia e me levantava; caia e me levantava; caia e me levanta, num movimento ininterrupto. 

Em 2016, cheguei a ficar um bom tempo estável, mas no final me desestabilizei com a possível reforma da previdência que poderia me atingir em cheio. Quase morri de medo. Eu preciso da minha carta de alforria. Eu preciso desesperadamente dela. Não aguento mais trabalhar. Não aguento mais isso. Eu trabalho desde os 14 anos sem parar. 

Em 2017, caí doente. Descobri ser portadora de duas síndromes de compressão de veia no abdômen: síndrome de May-Thurner (compressão da veia ilíaca) e síndrome de Nutcracker (compressão de veia renal). Passei já por duas cirurgias: uma para colocar um stent na veia ilíaca, para abrir a veia comprimida, a ilíaca esquerda, que é central, e outra para embolizar as veias gonadais, pois tinha severa congestão pélvica, causada pela compressão da veia renal. Tenho um stent e um monte de modas no abdômen. Aguentei tudo isso firme e não entrei em crise de depressão e pânico severa. 

Porém, em maio deste ano, o lexapro e a lamotrigina causaram um grande aumento da minha prolactina, ocasionando severa dor no seio esquerdo. Até descobrir isso, foi muito difícil e precisei de muitas visitas a médicos. Passei por um sufoco e tanto e, como a causa foi medicamentosa, precisei tirar toda a medicação psiquiátrica. 

Estava indo tudo bem, até semana passada. Estou organizando um congresso na universidade, que era pra ser juntamente como uma colega, mas ela está tirando o corpo fora e me deixando sozinha. A responsabilidade é muito grande e como estou sem medicação, caí feio. Me mantive muito bem por 03 meses e achei que tinha ficada livre dos remédios. Porém, veio uma crise de pânico severa. Estou acordando todas as manhãs com crise severa de pânico. Assim que abro o olho, meu coração começa a disparar, entro em aflição intensa, começo a suar muito a ponto de molhar toda a cama, fica acuada, em posição fetal, e não consigo levantar. Ando acordando antes das 06:00 horas ou por volta desse horário, coisa que é prejudicial pra mim e não consigo mais dormir. Nesse ínterim, desenvolvo crise de pânico. A sensação é medonha e estou exausta disso. Estou exausta, Deus; estou exausta. E, no meio disso tudo, tenho que conviver com o trabalho. Sempre o trabalho, sempre escrava, nunca podendo cuidar de mim mesma. 

Pensei que nunca mais ia passar por isso. Pensei. É horrível, gente; é horrível. A crise de pânico ainda é pior do que a depressão. Estou arrasada e no chão novamente. 

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Cheguei na metade do caminho

Quase dois anos se passaram desde a última postagem. O tempo, naquela época, não passava e meu sofrimento era hercúleo. Viver cada minuto constituía um esforço medonho. O tempo precisava passar e, para isso, nada melhor do que esquecer que ele existe. Acho que foi isso que tentei fazer. Porém, mesmo tentando não lembrar dele, parece que mal passou. 
Estou escrevendo hoje para registrar que ontem cheguei a metade do caminho. Em termos de tempo, já ultrapassei um pouco a metade. Em termos de obrigação, ontem cumpri um requisito importante para marcar a metade do percurso. Eu estou contando cada dia para ter minha carta de alforria. Daqui a 04 anos e 08 meses, poderei pedi-la. No entanto, perderei rendimentos se o fizer. Mas o fato de saber que posso requisitá-la é de grande alento. Com mais 01 ano e 02 meses, eu completo o tempo. Porém, nosso país desgraçado parece que não vai deixar isso acontecer, porque no meio do meu processo haverá uma reforma da previdência. Quando eu comecei esse blog, não havia nada disso; agora tem. Aguardarei. Mesmo assim, continuo contando como metade. EU CHEGUEI NA METADE DO CAMINHO. Sofri horrores para conseguir percorrê-lo. EU QUASE MORRI. Espero não morrer na última metade. Espero não terminar com minha vida, tamanho o sofrimento. FALTA METADE. Eu conto os dias como uma presidiária para ter minha carta de alforria. Eu sou uma presidiária. Todos nós somos nessa terra. 

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

A última dor de 2015 - feroz

Este foi um e-mail desesperado que escrevi aos meus dois médicos: 

Caríssima G. e caríssimo L. H.,

Preciso que vocês leiam esse depoimento. É muito importante.

Tentarei ser breve. Só peço desculpas porque mesmo sendo breve, casos psiquiátricos nunca são breves e superficiais. É tudo bem complicado e demorado.

Há mais de dois meses estou devendo esse e-mail à G.. Na última consulta que tive com ela, logo após meu retorno de São Paulo, em julho/2015, mês no qual tive meu primeiro contato com L. H., G. me pediu para entrar em contato contigo, L. H., solicitando seu contato, pois ela queria conversar sobre meu caso e tratamento. Entendi que, basicamente, a conversa giraria em torno de medicamentos e os problemas para dormir. Agora vocês têm os e-mails de ambos e se assim ainda o desejarem, podem se comunicar.

Quando procurei L.H., fui praticamente levada por uma amiga e colega da universidade, C., que viu que eu não estava nada bem nos idos de junho desse ano. C. faz tratamento com L. H. e, diante da rejeição do meu organismo aos medicamentos tentados pela G. (Duloxetina e Valdoxan), achou que eu deveria fazer o exame CYP-450, para entender o porquê, exame esse solicitado por L. H.  e feito em São Paulo.

Só que o problema estava muito mais complicado do que um simples pedido de exame.

Eu estou escrevendo esse e-mail a vocês para dizer, com pavor, que eu estava à beira da morte. Eu não aguentava mais viver. Acordar pela manhã estava sendo um suplício. Abria os olhos e começava o sofrimento, imediatamente: náusea (que muitas vezes tinha que controlar com Plasil para não vomitar), taquicardia, suores frios (invariavelmente suava muito durante a noite), um medo absurdo de encarar o dia e a vida, beirando o pânico (se é que não era), tristeza profunda, revolta com a vida pela situação que estou tendo que enfrentar, sozinha em (...), enfim, dá para esticar muito essa lista. Eu conseguia melhor um pouco somente depois de umas duas horas de pé, mas o maior problema era levantar. Como eu abria os olhos e me deparava com essa situação de horror, tentava desesperadamente dormir novamente para escapar daquilo tudo. Pela manhã eu conseguia, e esse tempo a mais de sono gerava pesadelos fortes e profundo mal-estar depois, porque levantava da cama entre 09:30 e 10:30 horas e o dia já tinha passado. Geralmente não dava tempo de fazer tudo o que tinha que fazer e ficava mais mal ainda, tornando, isso, um círculo vicioso e perigoso. A situação ficou tão ruim, mas tão ruim que decidi terminar com minha vida. Eu pedia a Deus para terminá-la, mas Ele não me ouvia e não ia me ouvir. Eu teria que terminar! Arquitetei um plano, que é muito difícil até de escrever: enforcamento, mas antes ia tomar uma caixa de stilnox para dormir em cima da corda (ou uma echarpe) e tentar dirimir o horror da cena. O lugar também já tinha sido estipulado: no registro de água do banheiro, porque me pareceu forte. Fiz o teste. Faltou nada para isso acontecer. Minha filha saiu de férias no dia 18 de junho e seu eu tivesse ficado em (...) mais uns dois dias, o plano teria sido executado. Eu repito: não dava mais para continuar. Eu já não tinha mais nem movimentos no corpo. Não mexia os braços, as mãos; meus olhos já não piscavam. Eu me olhava no espelho, com aqueles olhos de morta, e via que não tinha mais vida ali. Era só concretizar o que de fato acontecia.

O fato, caríssimos, é que conviver com a morte, lado a lado, como convivi durante esses dias, eu diria meses, antes do dia 18/06, me assustou demais. Eu percebi que tinha que fazer alguma coisa, mudar, sei lá, senão ia morrer. Eu só pensava na morte, dia e noite. Porém, antes desse período, eu também pensava, mas havia uma distância entre pensar e fazer e dessa vez a distância havia desaparecido por completo. A morte me fazia companhia dentro do meu quarto e do meu banheiro. Eu conseguia vê-la, sentia a respiração dela, a sua presença do meu lado.

Aí, as aulas da C. (filha) terminaram e a universidade estava em greve (aliás, essa greve ajudou demais, mas demais mesmo, no processo de melhora, depois). Viajo para minha cidade e decido não tomar mais nenhum remédio: nem Valdoxan, nem Stilnox, nem lamotrigina, nem plasil, nem nada mais, pois não estavam ajudando. E eu havia tentado com todas as minhas forças fazer com que desse certo. Minha cidade é uma paixão em minha vida, é onde gostaria de morar todos os dias, até o última dia de vida. Estar lá, mesmo à beira da morte, seria reconfortante, pensei, mas dessa vez não foi. Sem os remédios, ainda, não sei o que me tornei. Não havia vida. Me lembro de uma tarde gritar muito com Deus, na varanda dos fundos da casa. Eu vociferava como um cão raivoso, com os olhos fixos no céu, em meio a lágrimas que derramavam, que se era para viver assim, porque Ele havia me dado a vida? Eu não queria essa vida! E repetia, chorando muito, triste como nunca estive, profundamente magoada com Deus. Por que eu tinha que continuar acordando pela manhã? Por que? – eu perguntava, eu gritava, eu insultava, eu vociferava. Foi um momento muito difícil. Será que Deus ouviu? Que pena, não! Mas ele não se dirige a nós. Não tem como saber.

Em V. (minha cidade), tomei a iniciativa de procurar um grupo de apoio chamado N/A (Neuróticos Anônimos). Procurei esse grupo em C., mas, claro, aqui não tinha. Na (estado), somente em (...), (...) e (...) - três cidades. Mas em C. (ao lado de minha cidade) havia 04 grupos. Já havia decidido que quando estivesse em V., iria procurar o grupo. Escolhi o do bairro x, mais próximo da minha casa. No primeiro dia, J., o marido, foi comigo, pois eu havia perdido o tato em dirigir em C. e tinha que encontrar a igreja em que se reuniram (igreja ...). Quando a primeira pessoa começou a dar seu depoimento, eu comecei a chorar internamente (não queria exteriorizar, pelo marido, que é racional, matemático). A cada depoimento que eu ouvia, mais me comovia: eu havia encontrado pessoas iguais a mim, que sofrem dos mesmos males. Eu finalmente podia compartilhar as minhas dores porque meus interlocutores sabiam exatamente o que eu estava dizendo e sentindo. Isso ajudou muito. Eu voltei mais três vezes (reuniões todos os sábados), até a véspera do meu retorno. Dei muitos depoimentos, comprei toda a literatura deles e quis muito ter a capacidade de viver, nem que fosse por aquele grupo. Voltarei lá todos os sábados que estiver em V., daqui pra frente.

Graças às reuniões de N/A, tive um pouco de forças para ir à consulta com L. H. J. (marido)não ia poder me levar, era dia de rodízio. Também ele não faz questão nenhuma de levar alguém a essa especialidade. Não entende e nunca entenderá. Peguei um ônibus até a rodoviária do Tietê (1 hora e meia de viagem) e do Tietê metrô até chegar à estação Vera Cruz e depois a pé até o consultório, tentando encontrar o lugar. Uma maratona! Movo mundos em busca de uma cura para isso. Leio, pesquiso, vou atrás. A conversa foi muito boa. Sei que passei até do horário, mas o caso estava muito mais complicado do que você poderia imaginar, L.H.. Não daria para você saber, em apenas uma consulta. Como eu estava sem crença na vida, resolvi experimentar seu novo olhar medicamentoso: escitalopram e 1/3 de donarem, caso tenha insônia. Comecei com uma gota por dia e fui aumentando até 12, segundo prescrição. Era para eu ter entrado em contato, para subirmos, mas senti que estabilizei com 12 gotas e não senti vontade de aumentar. Continuo com elas. Fui melhorando aos poucos. O medicamento não causou efeito colateral nenhum, apenas melhorias.

Só que meu contexto do momento do início do novo remédio ajudou muito no processo. A universidade fez uma greve de 03 meses e esse tempo foi fundamental para mim. O trabalho é o principal vilão da minha vida. Ele me adoece. E houve outro pulo do gato: A ONG PESAMENTOS FILMADOS, dirigida por Ana Maria Saad. Em conjunto com o medicamento (que foi certeiro), aos cuidados de G. e E. (minha psicóloga), ao pouco tempo de convívio com N/A, posso dizer com toda certeza que Ana Maria Saad e seu trabalho salvaram a minha vida. Eu quero acreditar que Deus está por trás disso, que foi Ele que enviou essas tábuas para eu me agarrar. Talvez um dia Ele diga isso para mim. Ana buscou a cura na medicina integrativa e depois de 10 anos tendo acesso aos melhores profissionais, como Ângela Colameo, Milena Dias (com a ioga), psiquiatras como Edmond Saad e vários outros profissionais incríveis, conseguiu sair do “cantinho da bosta”, como ela intitula. Ela resolveu compartilhar tudo o que aprendeu ao longo de 10 anos e criou a Ong para tratamento dela e ajudar outras pessoas. Está evitando um monte de suicídios e tem ajudado a evitar o meu também. Ana promove congressos on line com esses profissionais e criou um grupo fechado de discussão no facebook, chamado “Clube da Cachola”, para quem participa do programa. Sobre esse trabalho eu conto mais, pessoalmente. O fato é que se vocês ainda não conhecem esse trabalho da Ana, precisam conhecer. Aí vai o link do site dela: http://www.anamariasaad.com.br/

Enfim, eu fui melhorando aos poucos, com a medicação, muitas leituras, N/A, o congresso, palestras e vídeos da Ong Pensamentos Filmados e a paciência da minha terapeuta, E., com quem converso todas as sextas-feiras.

Estou curada como a Ana? Longe disso. Me livrei da morte? Ainda não. Afastei-a um pouco, por enquanto em uma distância segura, mas morro de medo de ela voltar a me assombrar. Se ela voltar de novo a ficar comigo cara a cara em meu banheiro, eu sei que não saio viva, por isso estou entrando em contato com vocês. Por favor, é sério, muito sério.

Peço muitas desculpas pela demora em entrar em contato. À G. por não ter contactado L. H. e ter feito o que pediu, naquele momento; ao L. H. por não ter entrado em contato para dar o resultado dos exames que pediu e saber se tinha que elevar as 12 gotas de Lexapro e se já podia tirar a lamotrigina. A minha justificativa é a seguinte: todo esse processo me trouxe muita indisciplina. Eu acredito que o medicamento não é uma pílula milagrosa que vai resolver todos os problemas. Eu preciso fazer a minha parte e isso envolve muitos fatores que a Ong e o Clube da Cachola estão me ajudando a fazer. Disciplina é muito importante nesse processo. Não ia adiantar nada entrar em contato com vocês se eu não tinha minha vida em um caminho um pouco digno de recuperação. É isso que estou tentando fazer nesses últimos dois meses. O trabalho na universidade me sufoca e se não dou conta dele me deprimo mais ainda. Tenho tentado dar conta dele, mas ele me consome muito tempo. Acho que estou em um caminho. Faz 07 semanas que não entro no Clube da Cachola para participar, pois precisei fazer uma viagem para o exterior (congresso) que envolveu 03 semanas da minha vida, além do trabalhão para organizar tudo. Mesmo assim, sinto um caminho. Sobre isso, converso mais pessoalmente. Hoje retomo ao Clube da Cachola e à minha estrada de cura.

Segue, em anexo, o resultado dos meus exames e o primeiro exercício de um plano de cura de 12 semanas que o Clube da Cachola nos passou. Infelizmente parei nesse primeiro, mas agora estou retomando. Eles já estão no 8º. Não fiz o exame CYP-450, que só é feito em São Paulo. Não era urgente, acho até que dei uma forçada para fazer. Em janeiro estarei em férias em V. e faço. Quero esse resultado, de qualquer forma.

Obrigada pela paciência.


p.s.: G., meu sono está uma bagunça. Precisamos conversar. Porém, sem disciplina e sem aplicação dos métodos que você me passou, não atingirei os objetivos. Esse é meu ponto. Estou tentando organizar a vida. Não consegui ir à ultima consulta, pois viajei nesse dia. Tampouco consegui avisar. 

domingo, 9 de agosto de 2015

Deus, me ajude a ajudar

Acabo de ver três fotos do meu irmão caçula com sua única filha, que foram enviadas pela minha cunhada, via whatsapp. Hoje é dia dos pais. O cenário da foto é a casa dela, na qual meu irmão não pode morar, porque ela tem apenas dois cômodos: uma cozinha e um quarto, em que dormem dois adultos e três crianças: ela, a filha com duas crianças e a filha do casal. No meio dos dois quartos um banheiro, que, pelo que me lembro, não tem sequer porta; uma cortina de plástico faz a vez da porta. 

Deus, me ajude a ajudar. Faça de mim alguém forte, cure a minha doença. Acho que é por cenas assim que ainda não morri. 

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Carta a J.

Oi, J., 

A última semana não foi muito boa, me desculpe. A vida não tem sido fácil pra mim desde que eu me entendo por gente. Então, comecei a lutar bravamente, na esperança de quando chegasse a essa altura dela, e já estivesse equilibrada e estabilizada, mas não foi isso que aconteceu. Regressamos ao Brasil e enfrentamos uma boa barra, reformando a casa, vivendo 06 meses no apartamento apertado, reafirmando a vida aqui com todos os detalhes que essa tarefa requer, cuidando da readaptação da C. no novo colégio, enfim, não foi fácil. Mas era uma alegria ver  C. naquele colégio espetacular, mesmo naquele custo. Então os móveis chegaram, mas ainda tivemos meses pela frente para terminar tudo, pintando a casa e enfrentando obras e mais obras. Mesmo assim, ainda não havia ficado pronto, tinha a parte externa a ser feita, principalmente a área da lavanderia. Ou seja, mais trabalho. 

Mas foi aí que  a vida me pregou a pior peça de todas. Eu não sei se a pior, mas a mais difícil, com certeza. Depois de tudo pronto, estabilizado, vem o concurso num lugar longínquo e tomo consciência de que aquela vida era linda, mas tinha alguma coisa errada com ela. De alguma forma, ela não podia acontecer e se manter. 

Eu encontrei na vida algo muito difícil de se encontrar: um lugar para morar que amo com todas as minha forças, um lugar que me faz tão bem que um dia me peguei chorando de alegria por estar ali, o lugar no qual gostaria de viver para sempre, até o último dia da minha vida. E, quando esse dia chegasse, que eu fosse enterrada ali, para me misturar àquela terra que é a mesma coisa que eu. Eu amo V.! Se me oferecessem entre morar em Paris e morar em V., eu escolheria V.. Eu escolhi V., mas não posso usufruir dela. Viver longe da minha fonte de energia é a coisa mais triste que tenho que fazer na vida. Ter que passar 10 anos fora, no mínimo, para poder pagar por V., para poder ter o direito de morar nela, um dia, é arrasador. Eu não se foi a vida que fez isso comigo, não sei se foi eu mesma que fiz, não sei se foi nós que fizemos isso conosco. Não tenho essa resposta. Às vezes acho que foi a primeira possibilidade, às vezes a segunda, às vezes a terceira. O fato é que não  consigo chegar a uma conclusão que represente a verdade dos fatos.  

Não gosto de VC, não sinto prazer nenhum em estar aqui. Não sinto amor pela casa que foi erguida. Eu tenho apenas uma casa. Aqui é trabalho. A cidade é triste e pessoas tristes como eu precisam do mundo para poder reverter seu quadro interior; precisamos de vida e aqui não tem vida, não tem mundo ao redor, não tem nada. Não tem nós dois, não tem você chegando em casa depois de um dia na P. (mesmo tarde, eu não me importava, pois eu tinha V.), não tem poesia. Então só resta o trabalho: a verdadeira realidade. É preciso pagar pela poesia, não é mesmo? Poucos têm direito a ela. 

Já percorri (e não vivi) 3 anos e meio dessa jornada e igual a um presidiário que faz a contagem regressiva para sair da cadeia assim faço eu: lá se foi mais um dia, lá se foi mais um mês. Ano? Uma eternidade. 

Eu tento desesperadamente encontrar mecanismos para percorrer essa estrada, mas não é fácil, nem sempre consigo e acabo mergulhando numa tristeza sem fim, porque a dor é insuportável. 

Nem você e nem ninguém conseguem mensurar o quanto sinto por ter que ser assim. Que pena! É o que tenho a dizer: que pena! 

Mesmo sabendo que sua verdade é outra e seu olhar também, mesmo sabendo que é difícil para você compreender toda essa conjuntura, eu precisava me colocar para você.